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Os primeiros anos do Curso de Química (1935-1938)

Autores: Viktoria Klara Lakatos Osorio

Revisores: Marina Mayumi Yamashita

Editores Associados: Leila Cardoso Teruya

Última atualização: 28/05/2023

O curso de Química da Universidade de São Paulo (USP) teve origem na subseção de Ciências Químicas da seção de Ciências da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP. Em 25 de janeiro de 1934, o interventor federal Armando de Salles Oliveira assinou o decreto estadual 6.283, que fundou a USP, reunindo escolas preexistentes e criando uma nova, a FFCL, com o objetivo de ser um núcleo integrador. Porém, a nova faculdade, constituída por três seções e várias subseções, não dispunha de sede própria, nem de corpo docente.

Visando implantar uma escola inovadora, o primeiro diretor da Faculdade, Theodoro Augusto Ramos, professor de Matemática da Escola Politécnica e um dos fundadores da Universidade, viajou à Europa, no primeiro semestre de 1934, para contratar renomados cientistas e professores franceses, italianos e alemães, que constituíram a maioria do corpo docente. Os espaços para a instalação da faculdade foram cedidos em caráter temporário por outras escolas da USP. As subseções de Ciências Físicas e Matemáticas iniciaram suas atividades no prédio da Escola Politécnica. Os demais setores ficaram alojados no edifício da Faculdade de Medicina, concluído três anos antes, na Avenida Dr. Arnaldo, 455, onde foi proferida, aos 17 de julho de 1934, um pouco tardiamente, a aula inaugural da FFCL. A Subseção de Ciências Químicas se instalou em dependências cedidas pelo Departamento de Farmacologia, na ala posterior direita do terceiro pavimento desse prédio.

Para implantar o curso de Química, foi contratado na Alemanha o Professor Heinrich Rheinboldt, de 42 anos, chefe de departamento na Universidade de Bonn, onde tinha oito assistentes e já orientara 35 teses de doutoramento. Aos 12 de maio de 1934, ele firmou contrato com a Universidade de São Paulo e chegou a São Paulo no mês de julho. No restante do ano, empenhou-se em adaptar e equipar as instalações provisórias na Faculdade de Medicina, contando com o auxílio de Herbert Stettiner, químico alemão residente em São Paulo, contratado como assistente técnico, e Elly Bauer, encarregada inicialmente dos serviços de secretaria.

Por indicação de Rheinboldt, em dezembro de 1934, o segundo diretor da FFCL, Antonio de Almeida Prado, convidou Heinrich Hauptmann, também alemão, que se encontrava na École de Chemie de Genebra, para o cargo de assistente científico na Subseção de Ciências Químicas. Hauptmann chegou a São Paulo em fevereiro de 1935, com trinta anos incompletos.

O curso de Química teve início em março de 1935, quando o professor Rheinboldt deu a primeira aula, em língua francesa, no anfiteatro da Farmacologia, perante uma mesa repleta de aparelhagens montadas para a execução de experimentos de Química. Iniciava-se, então, uma tradição de ‘preleções experimentais’ que perdurou por muito tempo na escola.

Dos quarenta alunos que se matricularam no primeiro ano em 1935, apenas quatro concluíram o curso em três anos, o prazo regulamentar na época. A primeira turma de químicos diplomados pela FFCL-USP era composta por Jandyra França, Simão Mathias, Paschoal Ernesto Américo Senise e Luciano Barzaghi.

Os graduandos da FFCL recebiam a “licença cultural ou científica”, ou seja, o diploma de licenciado, que a faculdade resolvera emitir em língua latina para acentuar o caráter cultural dos seus cursos. Assim, os químicos formados em 1937 receberam o diploma de Licentiae Gradu in disciplinis dictis – Sciencias Chimicas, assinado por Ernesto de Souza Campos, terceiro diretor (Facultatis Moderator) da FFCL (Philosophiae, Scientiarum Litterarumque Facultas) e por Reynaldo Porchat, Reitor (Universitatis Rector) da USP (Universitas Paulopolitana). Em seu livro sobre a origem do Instituto de Química, o professor Senise relata os percalços que enfrentou e a dificuldade em encontrar um tradutor juramentado, para registrar o diploma em latim no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, conforme regulamentado pelo governo federal para o exercício da profissão.

O ano de 1937 foi crítico para os setores da FFCL alojados no prédio da Faculdade de Medicina. O curso de Química só dispunha de um laboratório medindo 45 m2 para as aulas práticas. O sistema de ensino se baseava no intenso trabalho diário individual no laboratório e o espaço disponível se tornou insuficiente para acomodar as três turmas de alunos matriculados, ingressantes em 1935, 1936 e 1937. Em junho, foi conseguida uma verba para ampliar as instalações, aproveitando o espaço de um terraço contíguo que constituía a cobertura do pavimento inferior. Logo no início das obras, porém, os alunos da Medicina se revoltaram e atearam fogo aos andaimes da construção. Esse episódio, conhecido como a “derrubada da torre da Filosofia”, resultou no pedido de demissão dos dois diretores, Antonio de Almeida Prado, da FFCL, e João de Aguiar Pupo, da Faculdade de Medicina, e na necessidade urgente da FFCL procurar outras acomodações.

Ernesto de Souza Campos, engenheiro pela Escola Politécnica e médico formado na primeira turma da Faculdade de Medicina em 1918, assumiu a direção da FFCL em 24 de junho de 1937. Conseguiu instalar, pelo prazo de seis meses, a Administração e as cadeiras humanísticas num velho casarão situado no número 76 da Rua da Consolação, que seria demolido para lá se construir a Biblioteca Municipal Mario de Andrade. Os setores que dependiam de laboratório, entre eles o de Química, permaneceram no prédio da escola médica. Nesse mesmo ano, o governo estadual adquiriu o imóvel situado na Alameda Glette, 463, para instalar uma sede própria para a FFCL. No local existia um palacete que pertencera ao médico e industrial Jorge Street. Em parte disponível do terreno, foi construído durante 1938 um prédio especial para a Química. Em janeiro de 1939, a Subseção de Química (que se denominaria Departamento em 1942) foi transferida do edifício da Faculdade de Medicina para o seu primeiro prédio próprio, na Alameda Glette, iniciando uma nova fase de desenvolvimento.

 

Referências

CAMPOS, Ernesto de Souza. História da Universidade de São Paulo. São Paulo: Saraiva, 1954. p.228-251.

LACAZ, Carlos da Silva. Faculdade de medicina: reminiscências, tradição, memória da minha escola. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 1999. p.100-101.

MATHIAS, Simão. O Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras: os primeiros anos. Química Nova, v.7, n.4, p.191-197, 1984. 

SENISE, Paschoal. Origem do Instituto de Química da USP: reminiscências e comentários. São Paulo: Instituto de Química da Universidade de São Paulo, 2006. p.19-35.

Mensagem para o Centro de Memória do Instituto de Química USP.

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